[Mais Magazine] USJ em Portugal: Uma ponte para o futuro do intercâmbio académico e cultural
[Mais Magazine] USJ em Portugal: Uma ponte para o futuro do intercâmbio académico e cultural
05
Mar
05/03/2024
Entrevista do Reitor da Universidade de São José (USJ) Macau, Prof. Stephen Morgan, com a revista Mais Magazine (Edição Especial Ensino n.28 – fevereiro 2024).
Source: https://maismagazine.pt/index.php/2024/02/23/usj-em-portugal-uma-ponte-para-o-futuro-do-intercambio-academico-e-cultural/
Explique como surgiu a ideia de implementar a University of Saint Joseph Macau em Portugal.
A University of Saint Joseph Macau foi fundada numa parceria entre a Diocese de Macau e a Universidade Católica Portuguesa nos últimos anos da administração portuguesa de Macau. Para celebrar o nosso 25º aniversário, e em reconhecimento do crescente intercâmbio académico e comercial com Portugal que a USJ Macau tem agora, decidimos que era necessária uma delegação com um gabinete permanente para manter e aprofundar os nossos laços com Portugal.
O que nos pode dizer sobre este projeto? Como serão as instalações, por exemplo?
A ideia é que tenhamos espaço para académicos e estudantes da USJ Macau trabalharem quando estiverem em Lisboa, salas de seminários, uma sala de palestras e espaço de trabalho partilhado para as empresas da nossa incubadora/aceleradora de empresas, Macau Spin, utilizarem quando precisarem de estar em Portugal.
Existe algum parceiro importante envolvido neste projeto que gostasse de destacar?
O nosso principal parceiro é o CCCM (Centro Científico e Cultural de Macau em Lisboa), que generosamente cedeu–nos um espaço de trabalho temporário nas suas atuais instalações. Estamos também empenhados em restaurar um edifício atualmente não utilizado pertencente ao CCCM, para que o USJ Lisbon Hub no CCCM possa realizar todo o seu potencial.
Quais são os cursos que vão colocar à disposição dos estudantes? E em termos de serviços, o que a universidade tem para oferecer?
A USJ Macau não irá oferecer cursos aos estudantes em Portugal. Somos uma universidade sediada em Macau e todos os nossos cursos estão sediados em Macau ou na UCP, a nossa universidade irmã em Portugal – já temos vários programas conjuntos ou duplos ao nível do mestrado e estamos prestes a abrir uma licenciatura em Comunicação e Media e uma licenciatura em Biologia e Biotecnologia com eles. O USJ Lisbon Hub no CCCM será, evidentemente, um local onde os intercâmbios de estudantes podem ser acolhidos e onde realizaremos programas de verão para os nossos estudantes. Também iremos realizar pequenos programas de formação de executivos sobre tópicos especiais em parceria com diferentes instituições e com o CCCM, por exemplo, programas de formação de executivos sobre comércio e negócios na Ásia. Macau é uma plataforma de intercâmbio intelectual, cultural e comercial entre a Ásia, Portugal e o mundo lusófono. O USJ é um exemplo concreto dessa plataforma e é a manifestação mais importante e relevante do potencial desse intercâmbio.
Na sua opinião, no futuro, porque é que os estudantes devem escolher a Universidade Saint Joseph Macau para prosseguir os seus estudos?
60% da população mundial vive na Ásia e esta é a região do mundo que não só é a mais vibrante em termos económicos e tecnológicos, como também é um local de incrível diversidade cultural. Acredito firmemente que o século XXI será cada vez mais visto como o século asiático e qualquer jovem que queira estar “onde está tudo” precisa de estar na Ásia ou, pelo menos, de passar algum tempo lá para se familiarizar com a sua energia, diversidade de culturas, línguas e povos. A China, em particular, é uma potência tanto da economia mundial, como da atividade cultural e intelectual. Macau situa-se no epicentro desta região. É exatamente onde um estudante deve querer prosseguir os seus estudos se quiser compreender o mundo em que vivemos, mas mais do que compreendê-lo, prosperar nele. Portugal foi o primeiro país europeu a estabelecer contatos efetivos com a Ásia e há 470 anos que a presença portuguesa em Macau é permanente. Atualmente, a China vê Portugal e a língua portuguesa – que é a língua mais falada no hemisfério sul – como uma parte central do seu desenvolvimento. Macau é um sítio fácil para um estudante português se sentir em casa. Embora seja inegavelmente uma cidade chinesa, grande parte da arquitetura histórica é reconhecidamente portuguesa, o português é uma língua oficial no território e a influência da cozinha portuguesa é enorme. A USJ Macau é uma universidade concebida segundo o modelo universitário português (matriz). Os estudantes encontrarão a estrutura dos nossos cursos e a atmosfera da universidade reconhecidamente portuguesa. A uni-versidade é, no entanto, altamente internacionalizada, com um terço dos nossos estudantes provenientes de cinquenta países de todo o mundo e três quartos do nosso pessoal académi-co sendo internacional. Um estudante que venha para o USJ está realmente a entrar numa comunidade genuinamente internacional, uma comunidade global. Um estudante que prossiga os seus estudos connosco sairá com uma educação de classe mundial obtida num lugar excitante e envolvente. O inglês é o meio de instrução para a maioria dos nossos cursos, mas todos os nossos estudantes de licenciatura têm também a oportunidade de se tornarem proficientes em chinês – a língua de um país de 1,4 mil milhões de pessoas – juntamente com o português e de se tornarem mais fluentes na língua inglesa.
Fale-nos mais sobre a identidade e a missão desta universidade.
O USJ é uma Universidade Católica internacional, privada e sem fins lucrativos, em Macau, na China; de Macau, da China; para Macau, pela China. Isto significa que somos independentes do controlo do governo de Macau ou do governo chinês, mas que nos vemos como uma comunidade de académicos e estudantes que atua como uma verdadeira plataforma de colaboração entre, por um lado, a China e a Ásia em geral, e, por outro, Portugal, os países de língua portuguesa e o resto do mundo. Como universidade católica, estamos empenhados na busca da verdade na tradição intelectual católica. Acreditamos que a fé e a razão têm ambas um lugar honrado e indispensável no genuíno florescimento humano e na investigação intelectual. Entendemo-nos como um sinal do empenho da Igreja em servir a sociedade humana no sentido mais amplo, sendo lugares de diálogo e de liberdade académica aberta e responsável. No centro do nosso trabalho está o reconhecimento da dignidade sagrada de cada pessoa humana. O nosso trabalho de investigação rege-se por esta consideração e o nosso ensino e aprendizagem procura exprimi-la através de níveis extremamente elevados de interação pessoal/estudante, com uma concentração do trabalho em peque-nos grupos. Expressamos isto também através do nosso compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. No Times Higher Education Impact Rankings 2023, ficámos classificados no terço superior de mais de 1600 universidades mundiais, em primeiro lugar em Macau e igualmente em sétimo na China, na missão de educação ao serviço do desenvolvimento sustentável. O nosso objetivo é formar licenciados com a mais elevada integridade pessoal: pessoas capazes de pensar de forma rigorosa, crítica e criativa, que trabalhem naturalmente em colaboração, que valorizem um verdadeiro compromisso com o outro e que procurem ir além da proficiência para o domínio da sua disciplina.
Podemos dizer que a investigação será uma das vossas apostas? E no que respeita à inovação, será também uma das vossas preocupações?
As universidades são fundamentalmente locais de produção e disseminação de conhecimento. São, por isso, lugares de inovação e de rutura: lugares em que o apetite ilimitado dos seres humanos para conhecer e compreender tem rédea solta para explorar novas ideias, novas formas de fazer as coisas. Os nossos programas, a todos os níveis, são concebidos para incutir um espírito de curiosidade, inovação e empreendedorismo. Isto nunca é mais verdadeiro do que no trabalho de investigação do nosso pessoal académico, que – com os nossos estudantes de licenciatura em investigação – constitui uma comunidade de duzentos investigadores que trabalham em quase todas as disciplinas académicas. Também aqui, o nosso caráter internacional encontra expressão, com colaborações significativas em parcerias académicas e comerciais na China. Lançámos recentemente a primeira colaboração de investigação Portugal-Macau-China sobre a economia verde-azul e o ambiente marinho com o Instituto de Oceanologia da Academia Chinesa de Ciências em Qingdao, na província de Shandong, no norte da China, com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Centro de Biotecnologia e Química Fina da Universidade Católica Portuguesa. Nas Artes, o nosso Departamento de Indústrias Criativas está envolvido num projeto com a Seton Hall University nos EUA, a Pontifícia Universidade Católica no Peru e a Universidade João Paulo II na Polónia, para criar uma exposição global virtual de arte, arquitetura e cultura, e os nossos filósofos, historiadores e teólogos estão envolvidos num grupo de investigação internacional sobre memória e identidade, com académicos na Austrália, Filipinas, Tailândia, Líbano, Croácia, Portugal e Reino Unido.
Para quando está prevista a abertura da University of Saint Joseph Macau em Portugal? Quais são as vossas expetativas para a mesma?
Esperamos iniciar as obras de construção do Polo de Lisboa da USJ antes do final deste ano, com abertura prevista para 2025/26, a tempo de assinalar o 450º aniversário do estabelecimento formal da Cidade e Diocese de Macau.
Qual é a sua opinião sobre o estado atual do ensino superior português? Como é que a University of Saint Joseph Macau pode contribuir para melhorar este estado?
Antes de vir para Macau (da Universidade de Oxford), tinha pouca experiência direta do ensino superior português, mas os últimos seis anos têm sido um verdadeiro privilégio, pois tenho vindo a conhecê-lo bem. Existe um verdadeiro e merecido orgulho nas universidades portuguesas e uma sensação de que o país compreende que o ensino superior é essencial para a sua prosperidade e progresso. É claro que as questões que afetam todas as universidades estão presentes – especialmente numa altura em que os fundos públicos são escassos e em que é difícil conseguir que os políticos alarguem a sua visão instrumental das universidades como centros de formação STEM – mas o que tenho visto em Portugal dá–me muita esperança. Uma das minhas funções é ter assento no Conselho Superior da Católica. Aqui vejo o melhor do trabalho de qualidade, inovador e virado para o exterior das universidades portuguesas. A nova escola médica do Campus de Sintra é o exemplo mais notável de como se pode repensar a resposta às necessidades da sociedade.
Finalmente, para o futuro, o que é que podemos esperar desta universidade?
A USJ Macau já é um sítio fantástico. Tem uma sensação, uma atmosfera, um espírito e um sentido de objetivo como nenhum outro. Este sentido de propósito está a levar a USJ Macau a pensar ainda mais sobre como podemos concretizar o nosso objetivo de nos tornarmos a universidade católica internacional de elite na Ásia Oriental. Os nossos licenciados já estão entre os mais bem-sucedidos, empregáveis e (e isto é importante) felizes que conheço. Não consigo pensar num lugar melhor para estudar para alguém que quer ser bem-sucedido, empregável e feliz, especialmente se quiser estar no centro do século asiático.